domingo, 22 de novembro de 2015

A Lenda da Maldição dos Lupinos


Hoje vou narrar a lenda da maldição dos Lupinos como a família conhece, mas antes quero tecer uns comentários.

O Lupino é um grão do tremoceiro (tremoço), uma planta leguminosa e fértil com flores variadas. Seu nome deriva do árabe Al-Turmus, significando “em água muito quente”; em grego Thermós. A primeira documentação de seu nome foi escrita e registrada como Altarmuz na literatura e as primeiras referências a esta planta surgiram no Egito há cerca de 4.000 anos. Foi introduzida na Itália da mesma forma que a seda, através da Rota da Seda. Os segredos Lupinos apareceram junto com os mistérios do bicho da Seda na Itália.

Em português é chamado Tremoço, em italiano é chamado Lupino, em castelhano é chamado Entremoço ou Atramoz, uma vez que o norte conservou o romance llobí de lŭpīnus. Na Espanha é conhecido também por Altramuz, Tramúz e Chocho. O tremoço pertence à família Fabaceae e à espécie Lupinus. Nos sites de Portugal essa lenda pode ser encontrada como a maldição do tremoço, porém, narrada de forma incompleta.

O tremoço é utilizado na alimentação humana e na alimentação dos animais, no enriquecimento dos solos, na indústria farmacêutica e na fito remediação e tem grandes propriedades regenerativas, de cura, porém, os ocidentais pensaram que os tremoços eram péssimos para a saúde devido aos resquícios na memória de uma lenda repetidamente ouvida desde os tempos de criança em que teriam sido amaldiçoados pela Nossa Senhora Maria mãe de Jesus.



A LENDA DA MALDIÇÃO DOS LUPINOS

Há mais de dois mil anos atrás, Maria e José estavam fugindo para o Egito, a fim de esconder seu filho dos soldados de Herodes.
Conta-se que o burrinho começou a perturbar Maria e ela pediu aos Fetos que eles prendessem o burrinho. Mas os Fetos não atenderam ao pedido dela.

O burrinho é um besouro do gênero epicauta, cuja excreção causa bolhas na pele humana devida uma substância causticante conhecida como cantaridina, e o Feto é uma espécie de samambaia, só para que vocês não se percam na narração.

Então Maria pediu às Silvas para cercarem o burrinho e prontamente seu pedido foi atendido. Maria abençoou as Silvas para que dessem frutos saborosos os quais todos os pastores iriam se fartar, enquanto ao contrário os Fetos nasceriam com a cabeça torta. Os Fetos foram amaldiçoados antes dos Lupinos.


A cada ruído que ouviam por menor que fosse como o cair de uma folha ou o rastejar de um pequeno réptil julgavam ouvir os passos dos soldados de Herodes. Procuravam, portanto evitar os caminhos mais transitáveis e atravessavam por sítios e por onde não deixassem pegadas que poderiam denunciar sua passagem.

A certa altura da caminhada embrenharam-se por um campo de tremoços. Como se sabe o tremoceiro quando está seco, e ainda com o tremoço dentro da vagem faz um barulho dos demônios comparável ao de um enorme rugido.

Ao atravessarem o tremoçal, o barulho era de tal ordem que, Maria, com dor e receosa, a quem o medo tornava impaciente, teria dito para José:

— Estas malditas ervas fazem tanto barulho, que, se os soldados passarem por aqui perto, vão ouvir e seremos apanhados.

Depois, dirigindo-se aos tremoços, disse:
— Ó ervinhas, peço-vos que não faças barulho, senão sereis amaldiçoadas e o vosso fruto não matará a fome a ninguém, por mais que comam.
Os Lupinos ouviram Maria chamá-los primeiro de “estas malditas ervas”, e depois chamou-os de “ó ervinhas!”. Os Lupinos não atenderam ao pedido de Maria e ela não entendia o porque seu pedido não foi atendido.

Em certa altura da jornada, ouvia-se o barulho arrastado entre as searas, e eles diminuíram sua marcha. Maria perguntou a si mesma se estava sendo seguida, mas não avistava ninguém.

Caminharam mais um pouco e o ruído se repetiu. Então José olhou ao seu redor e perguntou a Maria: “Alguém que nos persegue se aproxima por entre as colheitas?” - Um silêncio mortal tocou o ar e não houve nenhuma resposta, apenas o estranho ruído dos Lupinos agitados pelos ventos.

Então, Maria se enfureceu e percebendo que os Lupinos não haviam atendido seu pedido, os amaldiçoou dizendo: “eu vos amaldiçoo Lupinos, para que jamais farteis quem quer que se alimente de vós. Se for comido seco, empeçonharás quem os comer, liberará um gosto amargo e não serás apreciado por ninguém. Se for batizado com água e sal, não satisfará a fome de ninguém. Guardará sua riqueza interna junto com seu sabor sobre um invólucro que será tão duro quanto o ferro, suas flores serão lindas e assassinas, por mais que suas raízes sejam férteis e não lhes deixem ser extintos da face da terra. Não gostarás de ser enterrado, pois sempre tornará à superfície, e assim não serás semeado, mas sim jogado à terra e terá de escolher como se agarrará nela! E este será teu fardo daqui pra frente!”

Desde então, afirma o povo antigo que os Lupinos deixaram de matar a fome.

O fato é que esse fruto é muito apreciado como aperitivo nas festas de batizados e casamentos, pois não engorda e ajuda combater muitos males do organismo. A maldição de Maria pegou e ele não saciou o apetite de ninguém até hoje, quanto mais se come, mais se quer comer sem nunca sentir o estômago cheio.

Da família das favas e ervilhas, o Lupino se tornou o fiel companheiro da cerveja fermentada desde tempos longínquos. O tremoço-lupino é um verdadeiro petisco tradicional injustamente votado a alguma indiferença perante o carisma de uns pistácios ou até de uns amendoins.

É que nutricionalmente este modesto bago amarelo está quase ao nível de um bife. Tem três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca. E mais: é rico em fibras, vitaminas do complexo B, cálcio, potássio, ferro, vitamina E e ómega 3. E ainda mais: o seu reduzido teor em amido converte-o num aliado nada desprezível no controle dos níveis de açúcar no sangue e um ótimo companheiro das dietas. As suas propriedades cicatrizantes estimulam a renovação das células da pele. É um verdadeiro elixir!

Os egípcios deviam sabê-lo, consumiam a semente do tremoceiro há pelo menos três mil anos antes de Cristo. Atualmente a Austrália é o maior produtor mundial.

Além da Itália, são também apreciados em Portugal e em toda a América latina além de alguns países da bacia do Mediterrâneo, mas hoje em dia há produção dos Lupinos no mundo todo.


ALGUNS MISTÉRIOS DA ARTE DOS LUPINOS

A maioria das pessoas não sabem que os tremoços que comemos, foram primeiramente cozidos e depois cobertos de água mudada com frequência por diversos dias até perderem o seu amargo original, e só então é que se adiciona água e o sal.

Se não houver este procedimento, são completamente intragáveis e altamente tóxicos.


Esse amargor é devido à presença de vários alcaloides como a anagirina (usada como cardiotónica e teratogênica), a esparteína (usado como ocitócico e antiarrítmico) a lupanina, (influenciando os centros respiratórios e vasomotores), a luteona e a wighteona.

A intoxicação identifica-se por náuseas, vômitos, tonturas, dores abdominais, mucosas secas, hipotensão, retenção urinária e taquicardia.
Esta toxicidade desaparece após a fervura e o demolhar por vários dias, torna o tremoço doce e um alimento de eleição beneficiando as pessoas e animais que se alimentam dele.

O tremoço também é um excelente adubo verde quando enterrado porque tem a faculdade de fixar o nitrogênio do ar, apesar de voltar para a superfície, absolutamente necessário para o crescimento de novas plantas o que o torna também responsável pelo aparecimento de novos ecossistemas. As suas raízes conseguem descompactar e reduzir a erosão dos solos, ajudando à infiltração de água. Ótimo para melhorar a estrutura física dos solos. É resistente às geadas e gosta de invernos úmidos e verões secos, e para descobrir mais sobre os mistérios da fertilidade é necessário conhecê-los por dentro e por fora e claro, ser um amante da culinária do bago do lobo.

FONTE: Sett Ben Qayin


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